A discussão sobre o alto custo dos carros no Brasil é recorrente, e os dados recentes confirmam essa percepção. Em setembro de 2025, os preços dos veículos usados aumentaram 5,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, ultrapassando a inflação de 5,2% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Conforme o indicador IBV Auto, do banco BV, houve um aumento de 0,30% nos preços médios dos usados em comparação a agosto do mesmo ano, demonstrando uma desaceleração quando comparado ao mês anterior, que foi de 0,92%.
Esse fenômeno inflacionário no setor automobilístico iniciou em 2021, impulsionado pela crise de componentes eletrônicos durante a pandemia de Covid-19. A paralisação das fábricas e a escassez de semicondutores impactaram gravemente a cadeia produtiva global, resultando em elevações significativas nos preços dos carros novos e, consequentemente, dos usados. Economistas destacam que, nesse período, os preços dos automóveis subiram mais de 50% em menos de um ano, afetando profundamente o mercado.
Por que os preços dos carros ficaram tão altos?
Um fator que contribuiu para a alta dos preços foi a política do IPI Verde, que reduziu o imposto sobre veículos populares zero-km. Essa medida teve reflexos também no mercado de usados, principalmente nos modelos populares, que apresentaram queda mais acentuada nos preços em comparação com outras categorias. Além disso, a forte inflação dos carros novos no período pós-pandêmico resultou na valorização inicial dos automóveis de 2021, levando a um aumento nos valores de revenda.
Qual é o impacto do aumento dos preços nas vendas de usados?
Apesar do aumento nos preços, as vendas de veículos seminovos e usados têm alcançado recordes históricos no Brasil. Dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) mostram que entre janeiro e setembro de 2025, foram vendidas 13.478.486 unidades, um incremento de 16,4% em relação ao mesmo período de 2024. A expectativa é que o ano feche com 17 milhões de unidades vendidas, superando o recorde anterior.
O aquecimento da demanda por veículos usados é atribuído aos preços elevados dos automóveis novos, que desencorajam o consumo. Com o aumento da oferta de usados, essa categoria se torna uma opção mais acessível para os consumidores brasileiros. A tendência é de que as compras de usados continuem em alta, já que os consumidores buscam alternativas mais econômicas na hora de trocar de veículo.
Como a motorização influencia na desvalorização dos veículos?
Os diferentes tipos de motorização têm impactos distintos nos preços dos carros. Veículos elétricos de 2022, por exemplo, registraram uma desvalorização significativa de 47,4% até setembro de 2025, resultado do ajuste nos preços de novos modelos com essa tecnologia. Já os híbridos sofreram uma queda de 19,5% e os modelos a combustão perderam 12,8% em valor no mesmo período. Esse comportamento de mercado é influenciado tanto pela queda nos preços dos novos quanto pela demanda do consumidor, que ainda avalia custo-benefício na transição para tecnologias mais sustentáveis.

Quais são os custos adicionais que impactam o preço dos carros no Brasil?
No Brasil, o preço dos carros é fortemente influenciado por diversos fatores além do custo de produção. A carga tributária elevada, incluídos impostos como IPI, ICMS e PIS/Cofins, contribui significativamente para o aumento dos preços. Além disso, o IPVA é cobrado anualmente dos proprietários. Outro fator relevante é a variação cambial, que encarece componentes importados quando há desvalorização do real. Os custos de produção, que envolvem gastos com mão de obra, logística, energia e insumos, também impactam o preço final.
Por fim, as regulamentações ambientais e as evoluções tecnológicas influenciam os custos. A incorporação de sistemas avançados de segurança e entretenimento nos veículos requer um investimento em pesquisa e desenvolvimento, resultando em modelos mais caros para o consumidor. Dessa forma, o mercado automobilístico brasileiro enfrenta uma complexa dinâmica de preços, onde múltiplos fatores contribuem para os valores cobrados.